Artigo afirma que vale mais priorizar ou evitar grupos de alimentos do que ficar fazendo contas.
Ter em mãos calculadora e tabelinha de calorias não é a melhor forma de perder e manter o peso, de acordo com pesquisadores da Universidade Harvard que acabaram de publicar um estudo sobre o tema.
Para chegar à conclusão, a pesquisa acompanhou por 20 anos mais de 120 mil americanos saudáveis e dentro do peso normal.
De quatro em quatro anos, eles responderam questionários sobre hábitos alimentares e estilo de vida.
Resultado: muitos que comiam alimentos gordurosos e ricos em calorias, como nozes e leite, não engordaram; pelo contrário, emagreceram. Os que tinham o hábito de tomar iogurte foram os que mais emagreceram --370 gramas a cada quatro anos.
E mais: hábitos como fumar, beber ou ver televisão por várias horas influenciaram mais do que a ingestão ou não de alimentos calóricos.
Mudança de hábito
Para a nutróloga Marcella Garcez, diretora da Abran (associação de nutrologia), a pesquisa comprova que perder e manter o peso é questão de hábito, não de regime.
"Não adianta fazer uma dieta restritiva, com contagem de calorias, e ficar 'economizando' para continuar comendo o que gosta. Aí a pessoa passa fome e não muda o hábito. Quando o regime acaba, ela volta a comer como antes e recupera o peso perdido."
A nutricionista Fernanda Pisciolaro, da Abeso (associação para estudo da obesidade), também não acredita em dietas que cortam calorias. De acordo com ela, o organismo não entende o corte de energia e, passado o período de privações, dá um jeito de recuperar o peso perdido.
"Há muitos estudos sobre isso. Quanto maior o tempo de restrição calórica, maior será o ganho de peso depois."
Para emagrecer, a nutricionista indica que as pessoas diminuam quantidades, mas obedecendo as necessidades diárias de energia. Nada de dietas de mil calorias se a necessidade diária são 1.800.
"Se eu como quatro colheres de arroz, vou passar a comer três. Se como batata frita todo dia, posso comer só uma vez por semana. É muito melhor para a saúde comer normal do que fazer regime."
Em média, a maioria das pessoas engorda cerca de 450 gramas por ano (quase dois quilos a cada quatro anos). Na pesquisa, engordou mais quem comia regularmente batata frita e chips de batata.
O endocrinologista Alfredo Halpern, chefe do serviço de obesidade do Hospital das Clínicas de SP e criador da dieta dos pontos, diz que os resultados são os esperados --e que nada muda nas dietas.
Segundo ele, ninguém pode negar que, no fim das contas, emagrecer é resultado de uma matemática negativa: gastar mais calorias do que ingerir.
"Para uma dieta, ainda vale essa ideia. Não tem como fugir disso. Uma coisa é emagrecer e outra é ter alimentação saudável."
De acordo com Halpern, o estudo isolou grupos alimentos. Para ele, isso pode valer para orientações gerais a um grupo grande de pessoas, mas não tem como ser uma orientação individual e isolada.
"Se a pessoa passar a comer nozes e iogurte, porque nesse estudo quem comia isso emagreceu, ela não vai emagrecer se não cortar calorias. O que deve ter acontecido nesse estudo é que quem comia esses alimentos saudáveis também comia mais frutas, legumes."
O endocrinologista Airton Golbert, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia concorda com a matemática do cortar calorias, mas diz que é uma conta imprecisa.
"Depende de como o alimento é absorvido, metabolizado e dos hábitos da pessoa ao longo do tempo. É uma questão educativa.
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